Ó bendito o que semeia livros, livros à mão


cheia... e faz o povo pensar!
O livro caindo n'alma é germe que faz a palma, é


chuva que faz o mar!


Castro Alves


quinta-feira, 18 de março de 2010

Estudo Errado - Gabriel O Pensador

Eu tô aqui Pra quê?

Será que é pra aprender?

Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?

Tô tentando passar de ano pro meu pai não me bater

Sem recreio de saco cheio porque eu não fiz o dever

A professora já tá de marcação porque sempre me pega

Disfarçando, espiando, colando toda prova dos colegas

E ela esfrega na minha cara um zero bem redondo

E quando chega o boletim lá em casa eu me escondo

Eu quero jogar botão, vídeo-game, bola de gude

Mas meus pais só querem que eu "vá pra aula!" e "estude!"

Então dessa vez eu vou estudar até decorar cumpádi

Pra me dar bem e minha mãe deixar ficar acordado até mais tarde

Ou quem sabe aumentar minha mesada

Pra eu comprar mais revistinha (do Cascão?)

Não. De mulher pelada

A diversão é limitada e o meu pai não tem tempo pra nada

E a entrada no cinema é censurada (vai pra casa pirralhada!)

A rua é perigosa então eu vejo televisão

(Tá lá mais um corpo estendido no chão)

Na hora do jornal eu desligo porque eu nem sei nem o que é inflação

- Ué não te ensinaram?

- Não. A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil

Em vão, pouco interessantes, eu fico pu..

Tô cansado de estudar, de madrugar, que sacrilégio

(Vai pro colégio!!)

Então eu fui relendo tudo até a prova começar

Voltei louco pra contar:

Manhê! Tirei um dez na prova

Me dei bem tirei um cem e eu quero ver quem me reprova

Decorei toda lição

Não errei nenhuma questão

Não aprendi nada de bom

Mas tirei dez (boa filhão!)

Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci

Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi

Quase tudo que aprendi, amanhã eu já esqueci

Decorei, copiei, memorizei, mas não entendi

Decoreba: esse é o método de ensino

Eles me tratam como ameba e assim eu não raciocino

Não aprendo as causas e conseqüências só decoro os fatos

Desse jeito até história fica chato

Mas os velhos me disseram que o "porque" é o segredo

Então quando eu num entendo nada, eu levanto o dedo

Porque eu quero usar a mente pra ficar inteligente

Eu sei que ainda não sou gente grande, mas eu já sou gente

E sei que o estudo é uma coisa boa

O problema é que sem motivação a gente enjoa

O sistema bota um monte de abobrinha no programa

Mas pra aprender a ser um ignorante
Ah, um ignorante, por mim eu nem saía da minha cama (Ah, deixa eu dormir)

Eu gosto dos professores e eu preciso de um mestre

Mas eu prefiro que eles me ensinem alguma coisa que preste

- O que é corrupção? Pra que serve um deputado?

Não me diga que o Brasil foi descoberto por acaso!

Ou que a minhoca é hermafrodita

Ou sobre a tênia solitária.

Não me faça decorar as capitanias hereditárias!! (...)

Vamos fugir dessa jaula!

"Hoje eu tô feliz" (matou o presidente?)

Não. A aula

Matei a aula porque num dava

Eu não agüentava mais

E fui escutar o Pensador escondido dos meus pais

Mas se eles fossem da minha idade eles entenderiam

(Esse num é o valor que um aluno merecia!)

Íííh... Sujô (Hein?)

O inspetor!

(Acabou a farra, já pra sala do coordenador!)

Achei que ia ser suspenso mas era só pra conversar

E me disseram que a escola era meu segundo lar

E é verdade, eu aprendo muita coisa realmente

Faço amigos, conheço gente, mas não quero estudar pra sempre!

Então eu vou passar de ano

Não tenho outra saída

Mas o ideal é que a escola me prepare pra vida

Discutindo e ensinando os problemas atuais

E não me dando as mesmas aulas que eles deram pros meus pais

Com matérias das quais eles não lembram mais nada

E quando eu tiro dez é sempre a mesma palhaçada

Refrão

Encarem as crianças com mais seriedade

Pois na escola é onde formamos nossa personalidade

Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância, a exploração, e a indiferença são sócios

Quem devia lucrar só é prejudicado

Assim vocês vão criar uma geração de revoltados

Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio

Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...

Juquinha você tá falando demais assim eu vou ter que lhe deixar sem recreio!

Mas é só a verdade professora!

Eu sei, mas colabora se não eu perco o meu emprego.

terça-feira, 16 de março de 2010

HTPC

Engraçado. Há dias em que esta reunião desenrola-se de forma tranquila e produtiva. Em outros, parece que não contemplo as necessidades aspiradas por uma ou outra professora. Penso o dia todo em favorecer o máximo as ações que os alunos devem vivenciar. Nossa escola está linda! Tudo limpo, organizado. Preciso sistematizar as visitas em sala para pontuar algumas observações já feitas informalmente mas, mesmo planejado, surgiu uma reunião de última hora na SEDUC, convocando os coordenadores a ausentarem-se por três dias das unidades a fim de apoiar o trabalho de capacitação das educadoras contratadas para a nova creche. Legal. Na verdade preciso aprimorar meus conhecimentos sobre berçário, já que não atuo diretamante considerando que em nossa escola há uma coordenadora atuando nesta área. Por outro lado, deixo de dar continuidade nas ações organizadas para esta semana, inclusive sobre documentação a ser entregue na Secretaria, o que pode sobrecarregar a direção pois a rotina de uma escola demanda uma dinâmica que dificulta a concentração para organização de dados. O atendimento à comunidade, matrículas, articulação de horários de funcionários, manutenção do prédio/ações pedagógicas que ensejam comunicação direta com os respectivos departamentos da SEDUC, além de tantos outros. Enfim, falta tempo para organizar tantas coisas. Neste momento, os HTPC's giram em torno da conclusão coletiva do Plano de Ensino, tendo em vista que a Fase II deve ser continuidade da I. Portanto, compartilhamos os objetivos, estratégias, conteúdos, além de aspirarmos projetos que fortalecerão nossa prática.

domingo, 14 de março de 2010

Bichos de jardim

Ao promover momentos em que as crianças podem, de forma autônoma, ampliar seu conhecimento através da interação, estimulamos sua criatividade, oportunizando-lhes situações desafiadoras em que estas colocam à prova suas estruturas mentais que, após confrontadas, ajustam-se aos novos saberes. Nós professores, que por vezes trabalhamos em dois períodos, chegamos em casa e organizamos a aula do próximo dia, articulamos nossa vida pessoal, cumprimos horários (tempo curto e trânsito complicado ensejam o stress), nem sempre nos damos conta da amplitude das peculiaridades infantis. Há uns seis anos, trabalhando com uma turma de primeiro ano (do ensino de oito), solicitei que listassem, após pesquisa de campo e exploração oral, nomes de bichos de jardim, a fim de verificar suas hipóteses sobre a escrita. Após recolher o material e passarmos para o trabalho com jogos matemáticos em grupo, orientei-lhes e iniciei minhas observações. De posse das atividades recolhidas, passei os olhos e minha atenção foi solicitada ao ler os nomes dos bichos de jardim que a aluna Beatriz havia registrado: onça, tigre, leão, girafa dentre outros. Nossa! Hoje analiso minha imprudência como aprendizado. Imediatamente localizei a aluna e perguntei à turma interrompendo suas hipóteses de resolução dos jogos matemáticos quais animais moravam no jardim que, prontamente responderam: joaninha, borboleta, minhoca, caramujo e tantos outros. Então, questionei à aluna em questão se a mesma já havia visto onça ou tigre no jardim (em meus pensamentos, um gramado com plantas diversas e pequenos animais camuflados). A resposta veio como um tapa em meu rosto: JARDIM ZOOLÓGICO, PROFESSORA! Imagine! Ela tinha muito mais vivência que minha negligente suposição! Aquele dia serviu para eu me auto analisar. Obviamente tomei muito mais cuidado ao expressar minhas conclusões e, de quebra, elogiei a atitude da aluna, retratando-me diante da turma.